quinta-feira, 15 de julho de 2010

VAMOS CRUZAR OS BRAÇOS


( TEXTO QUE VOCÊ VAI LER É PUBLICADO COM A PERMISSÃO DO AUTOR) 

A NOSSA MAIOR ARMA É PACÍFICA - TIRE O PÃO DO TJ, ASSIM COMO ELE TIRA O SEU

O TJ está há anos tirando o alimento do servidor público, através da diminuição gradativa de seu salário. E, durante a greve, ele tira mais ainda o nosso alimento, descontando os dias parados, os quais na verdade configuram apenas falta-greve.
Para fortalecer nossa greve, precisamos enfraquecer o TJ, tirando-lhe também o alimento. O servidor que está trabalhando durante a greve está alimentando o organismo do TJ, mantendo-o em funcionamento. O TJ, com o argumento de que está funcionando, diz que a greve não existe ou que é fraca. É mentira. Basta perguntar para qualquer advogado ou usuário do serviço judiciário, que ele responderá que o serviço está pelo menos 50% mais precário. Se o serviço da Justiça já era lento, com a greve tornou-se mais ainda. Ou seja, o serviço que está sendo prestado não está adiantando nada. Se todo servidor parar de trabalhar, o TJ também sentirá a falta de seu alimento.
Todos os servidores (grevistas ou não), ao entrarem no TJ, têm uma expectativa de crescimento na qualidade de vida, pela importância do serviço que presta e sua correspondente retribuição de salário.
Logo de cara tomamos um choque, pois a estrutura horrível de trabalho está escancarada. Não há manuais, treinamentos, padrão (cada cartório faz o serviço de um jeito, embora o tipo de serviço seja o mesmo), temos escassez de material, instrumentos de trabalho obsoletos, instalação péssima. Só após 3 ou 4 meses de trabalho recebemos o nosso 1º salário. Temos “ajuda” de estagiários que, pela sua própria natureza, são limitados (não podem fazer isso, não podem fazer aquilo); temos, ao contrário, auxiliares fazendo serviço de escrevente, sem ganhar nada mais por isso (podem fazer isso, podem fazer aquilo), escrevente fazendo serviço de juiz sem ganhar nada mais por isso (podem fazer despacho, podem fazer sentença).
Temos carga enorme de serviço e somos cobrados ao máximo, sob pena de advertência até processo administrativo. Ou seja, quando o TJ cobra algo do servidor e este, sob seu julgamento, não o cumpre a contento, o penaliza. E quando o servidor cobra algo do TJ (como o seu direito constitucionalmente reclamado na greve), o TJ também o penaliza (até com spray de pimenta, bala de borracha e bomba de gás lacrimogêneo). Veja, servidor, você só leva bordoada e não pode reclamar de nada. Essa é a maior prova de que está em regime de ESCRAVIDÃO. Está preso aos cartórios pelas correntes processuais, cumprindo desumana carga de serviço, durante a jornada normal de trabalho, ou, quando nem assim dá conta, fazendo horas-extras no dia-a-dia ou até nos finais de semana, sem ganhar nada mais por isso.
Isso tudo está ERRADO.
PARE de alimentar esse MONSTRO JURÍDICO que é o TJ. Pare de torná-lo tão poderoso. Não tenha atitude de ESCRAVO. O proprietário da SENZALA só tem poder quando é engordado pelo alimento do ESCRAVO.
A título de esclarecimento, quando chamo servidor de ESCRAVO, quero dizer que o servidor está se comportando como ESCRAVO, não que o seja realmente. Pois o escravo tinha muito menos armas que o servidor tem. O escravo não tinha estudo (pois lhe era tolhido), enquanto o servidor tem (embora por suas atitudes pareça comportar-se como um ESCRAVO). Será que o ESCRAVO analfabeto era mais inteligente que o ESCRAVO estudado (nós, servidores) de hoje? O escravo analfabeto não está mais acorrentado nas senzalas!!!
Um outro ponto. Disse no início que ingressamos no TJ com expectativa de melhor qualidade de vida, mas que a frustração logo vem, quando constatamos o contrário.
Nesse ponto, o servidor que não adere à greve e que fica trabalhando precariamente, alimentando o TJ, está sim prejudicando a si e aos demais colegas (grevistas ou não), impedindo a melhoria da qualidade de vida de todos.
A falta de SOLIDARIEDADE é gritante. Como eu já disse, o servidor que alimenta o TJ com seu trabalho faz com que ele possa argumentar que está funcionando normalmente e que a greve não existe ou está fraca. A greve não está fraca, servidor, mas é claro que sem sua participação, fica enfraquecida. O servidor que alimenta o TJ tira o pão da sua boca e dos demais servidores (e de todos os seus dependentes) e o coloca na do TJ. O TJ está cada vez mais rico e o servidor cada vez mais pobre. E o pior é que o TJ fica mais rico e o dinheiro não volta para as mãos do servidor com melhorias, mas com certeza vai para outras mãos, pois dinheiro não evapora.
Alimentar o seu algoz é terrível.
Tirar o pão da própria boca para dar ao necessitado tudo bem, mas para dar ao seu algoz é um engano terrível.
Por tudo isso, o servidor que trabalha durante a greve está sim impedindo a melhor qualidade de vida sua e dos demais colegas, que não conseguem que o TJ dê o seu direito coletivo constitucionalmente reconhecido. O direito que reclamamos é coletivo, não tem como recebê-lo individualmente. Portanto, se você não adere à greve, está prejudicando inevitavelmente a melhoria da sua qualidade de vida e também a de seus colegas. Isso é falta de SOLIDARIEDADE. Por outro lado, não há como ter solidariedade com o ato de trabalhar durante a greve, pois somente ao TJ alimenta verdadeiramente. Ou seja, para melhorar sua qualidade de vida o grevista precisa sim da adesão de seus colegas e, por isso, não pode desistir de conclamá-los para a greve, enquanto ela durar.
A frase dos grevistas “Viana, a culpa é sua” é verdadeira, mas a frase “Servidor que trabalha durante a greve, a culpa também é sua” também é verdadeira.
Já critiquei os grevistas que, apesar de não irem trabalhar nos cartórios, só ficam em casa. Hoje reconheço o seu valor. Pelo menos não estão alimentando o TJ com seu trabalho e, por isso, já são bastante significativos para a greve. Demonstram pelo menos que não concordam e tomaram uma atitude corajosa de cruzar os braços, sofrendo punições também. Além do mais, há vários tipos de grevistas: os que ficam no fronte de batalha (servidores e presidentes das nossas entidades, como é o caso da Ivone da AOJESP - www.aojesp.org.br – que foi uma das vítimas do ataque da PM, no conflito do dia 07/07/10, na praça João Mendes); os que vão às Assembléias locais e/ou estaduais, embora não se envolvam nos conflitos; os que falam em público; os que escrevem; e há os que ficam em casa. E por quê? Porque nem todos nasceram com o dom de encarar PM, de falar em público, de escrever um texto. Alguns são tímidos até para conversar. Mas não importa. Só de assumirem que são grevistas, CRUZANDO OS BRAÇOS, dentro de suas limitações, demonstraram sua coragem, pois disseram um NÃO a esse poderosíssimo e arbitrário órgão público, o TJ. Que o não-grevista não use o argumento de que não é grevista porque não tem coragem nem de cruzar os braços para ficar em casa.
O que quero dizer é que para tornar-se um grevista basta PARAR o serviço, CRUZAR OS BRAÇOS. Essa é a maior arma que temos. Não precisamos de bala de borracha, spray de pimenta ou bomba de gás lacrimogêneo. Nossa arma limpa é um ato simples: CRUZE OS BRAÇOS, mesmo que for para ficar em casa. Quando você estiver em greve, mesmo em casa, e se o TJ lançar um tiro, um spray de pimenta, uma bomba de gás lacrimogêneo, ou um cassetete em algum colega que estiver na praça João Mendes em manifestação pacífica, você, mesmo de braços cruzados em casa, sentirá que foi em você. Você sentirá a dor pelo seu colega, porque, se mesmo com toda a categoria em greve, o TJ continuar com estes atos de VANDALISMO INSTITUÍDO, você sentirá que ele não merece o mínimo de sua consideração, de seu suor e de seu trabalho. Eu tenho a certeza de que quem está trabalhando já está sentindo, mas em greve a dor é maior, pois lá fora não temos as paredes dos cartórios para servir de escudos para nos proteger.

SERVIÇO ESSENCIAL

O TJ diz que não podemos parar serviço essencial. Ora, a educação, a saúde e a segurança, além da justiça, são serviços essenciais à sociedade, e o Governo e o TJ não lhes dão a mínima importância. O que é ESSENCIAL em nossas vidas também deve ser PRIORITÁRIO, e o que vemos é o contrário: essas áreas são relegadas para último plano. Estudamos em péssimas escolas públicas, temos uma polícia que ganha uma “merreca”. Quanto à saúde, é melhor nos prevenir, pois se precisarmos, o atendimento dos hospitais públicos é péssimo e os remédios são caríssimos. E, voltando ao Judiciário, se o serviço fosse tão essencial à população, não teríamos processos (criminais, de família, de infância e juventude, envolvendo precatórios, etc) arrastando-se através dos anos, pela falta de estrutura e de valorização do funcionário público.
Então, que não se alegue mais que não podemos fazer a greve porque não podemos parar serviço essencial. Isso é culpa do Governo e do Judiciário. A greve está ocorrendo e se estendeu até agora por falta de vontade deles em resolvê-la. Sabem que a greve está estendendo-se, que o prejuízo à população (que já existe normalmente quando não estamos em greve) está cada vez maior, e mesmo assim não fazem nada.
É aí que vemos o engano dos advogados e da população, usuários do serviço judiciário. Eles já têm PERMANENTEMENTE um atendimento péssimo da Justiça. A greve é justamente para acabar com isso. É para melhorar a qualidade do serviço, resultado natural da melhoria das condições de trabalho, com o preenchimento dos cargos vagos por novos servidores, melhores instalações, salários, etc.

ATO DE PARAR (CRUZAR OS BRAÇOS): ARMA LIMPA
(armas sujas são as usadas pelo TJ: spray de pimenta, bomba de gás lacrimogêneo, bala de borracha)

Com um só ato pacífico, o servidor estará, temporariamente:
- ensurdecendo o TJ (como o faz o barulho da bomba de gás lacrimogêneo): servidores soltando o grito da garganta;
- cegando-o (como o faz a bala de borracha e o spray de pimenta): só através do servidor o TJ enxerga realmente o problema da população;
- sufocando-o e o fazendo chorar, pois entra em pânico (como o faz a bomba de gás lacrimogêneo e o spray de pimenta): com os processos paralisados e a população cobrando, o TJ entra em pânico;
- fazendo-o sentir na pele o que sentimos (como o faz a bala de borracha): o TJ sentirá o que é ter sua vida estagnada.
A sociedade vai cobrar atitude do TJ. Não precisaremos fazer nada, só CRUZAR OS BRAÇOS.
Se, mesmo assim, o TJ não fizer nada para resolver o problema, estará provado mais ainda que não liga para o serviço essencial à sociedade e poderemos ir à mídia e dizer: - Todo servidor continua em greve, reclamando a reposição salarial constitucional e melhores condições de trabalho, e mesmo assim o TJ, arbitrariamente, não reconhece estes direitos, portanto, trata-se, ao contrário da sua própria natureza, de um órgão injusto, e, portanto, a sociedade tem que ser informada de que o TJ é o responsável pela má prestação dos seus serviços. E terminaremos dizendo que, enquanto o TJ não der o que é nosso, não der uma resposta a nós e à sociedade, A GREVE CONTINUA!!

Alexandre Pedro Bom – Escrevente Técnico Judiciário – JEC Limeira/SP

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